sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Olhos de Ricardo

Ricardo aprendeu a enxergar quando saiu de sua mãe.
Via um homem vestido de branco que parecia grande naquela posição e que lhe batia e chorar ainda mais isso fazia.
Enquanto seu choro era apaziguado porque agora ele vivia, viu sua mãe que também chorava, mas que também sorria numa profusão de sentimentos que ele nem conhecia.
O menino continuou enxergando e gostava de ver o que via. Observava tudo o que ante os olhos aparecia. Via o sol que o seguia; via a lua que o acompanhava; via os carros, os ônibus; via as gentes que seguiam os carros e os ônibus. 




Ele via as mãos estendidas e calejadas de Maria, via as roupas sujas e rasgadas de José, via os pés descalços e feridos de João e então viu que não gostava do que via.
O garoto transformou-se em homem e aprendeu a enxergar aquilo que ninguém conseguia. Agora ele entendia porque a mãe chorava e sorria. Agora entendia porque Maria, José, João e tantos outros que ele via não conseguiam também ver o sol e a lua que os seguia.
Aqueles que não viam não tinham vida para viver.
Por isso não podiam ver.  



Ricardo aprendeu a enxergar quando saiu de sua mãe.
Porém, agora já não via porque preferia não ver aquilo que tanto o afligia. 

4 comentários:

  1. Que desventura incrível de Ricardo. Você sabe que o olhar ganhou grande destaque na literatura depois de Machado... E a metáfora que perpassa todo o texto do ver e do enxergar faz pensar nesse eu - lírico deslocado do mundo em que vive, já que ninguém enxerga a realidade como ele... Me faz lembrar de mim mesma e, por isso, deve provocar um deslocamento em todo leitor que se identifica com essa personagem simples e contemplativa.
    Não posso deixar de contar aos seus leitores o quão difícil deve ter sido publicar um poema com tantas rimas e rimas iguais. Sei o quanto você as nega.
    Continue assim... Ficou ótimo!

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  2. Nuss! Com você falando assim, eu até me animo! Sabe que me aventurei em rimar e GOSTEI! Estava no ônibus e de repente vi muitos Ricardos a minha volta e eu era uma Ricardo também. Foi incrível poder enxergar!
    Obs.: fui criticada pela Suelen (minha irmã) pois afirmou que quando nasce uma criança não pode enxargar - ela dizia sorrindo. Minha resposta foi que Ricardo, simplesmente, era especial.

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  3. Não foi uma crítica..apenas uma opinião profissional...uma criança nasce sem noção de cor..espaço...movimento... Mas entendi o significado do que escreveu.
    Como todos os textos seus adorei.
    Sou sua fã!

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  4. Ricardo é muito especial, ele tinha que enxergar desde o nascimento! Ficou perfeito do jeito que foi feito, rsrsrs.

    Bjos, gatinha.

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