O
pobre mulato nasceu num mundo de pré-conceitos. De mãe portuguesa e pai negro,
se viu num drama entre o pomposo e a simplicidade. Porém, nada disso o fez
parar de sonhar, reagiu às adversidades.
Quando
criança, dor da perda abateu-se sobre ele. Perdeu seu “Sonho de criança”, sua
mãe. Perdeu sua irmã, a quem a “Alma era do céu”. Padeceu, então, de moléstia
interna. Porém, não abdicou seu direito de ser livre intelectualmente. Libertou
“Seu mundo”, sua mente em seus livros. Sua ambição era sua felicidade, a busca
pelos seus anseios. Impôs-se aos bem-nascidos. Teve seu devido lugar nesse
mundo.
Esse
homem também amou. Encontrou seu outro eu, se refez da indiferença. Não sabia
viver sem sua amada, sua irmã, sua mãe, seu tudo. Porém, nem sempre ele pôde
contar com a felicidade. Assim como sua família fora levada, seu amor também o
fora. Não existia mais chão, só tristeza e cansaço.
Mas,
diferente de muitos, ele renasceu. Se antes era o incrédulo que questionava sem
êxito, agora ele obtinha as respostas, mesmo não acreditando no espírito
humano. É que nada podia superar a dor da sua perda.
Após 53 anos de uma
perfeita atividade intelectual, aos 69 anos de vida, morre na casa de Cosme
Velho, não só o maior escritor brasileiro, mas, também, o homem que provou ser
capaz de superar males de nossa existência. Foi o “Homem da porta da Garnier”,
o “Homem da Academia de Letras”, “Humorista sutil”, “Burocrata perfeito”, “Marido
ideal”, ou, apenas, como preferia, Joaquim Maria Machado de Assim.