quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Outono Imortal


As folhas são como palavras soltas que caem e viajam durante o vento do outono. Percorrem colinas deixando a essência do verde por onde passam. E, assim como as folhas, que caem no outono, as aves fogem do inverno branco e vão à busca de primaveras veronis.
       Eu queria apenas ser uma ave e fugir desse inverno que chegou e regressar quando a primavera florir. Porém, a vida se assemelha às folhas tocadas pelo outono, pois nunca se sabe quando a chuva e o vento chegarão – para nos levar a viagens inesquecíveis – ou quando fará sol outra vez...
       No inverno branco do meu quarto, ouço o bater de asas procurando um raio de sol... e, pela última vez, o adeus do pássaro.



Versos sazonados
No pôr-do-sol,
No crepúsculo caído,
Nas cores intensificadas,
Nas dores simplificadas,
Nas folhas mortas rasgadas,
Num outono imortal.
Amanda Gomes

No final do arco-íris [5]


Não preciso nem falar que a Beca, é frequentadora assídua da nossa casa sem nenhum receio ou preconceito. Acho que essa aceitação foi muito importante, pois ela era nossa amiga desde o tempo em que o grupo foi formado, e ainda tinha a Vick, a Vitória, outra amiga que nos via sem discriminação.
Talvez tenha usado a palavra errada – aceitação – mas não devo ser hipócrita. Por mais que a gente diga que o homossexualismo é algo que deve ser encarado com naturalidade, sabemos que a sociedade não está preparada para nos receber com essa naturalidade, ela pode apenas aceitar; mesmo que doa ter que ser aceito como se você tivesse uma doença, mas não serei hipócrita em dizer que as pessoas têm, sim, nos aceitado, pelo menos algumas em nosso círculo social.
Enquanto estava em minha fase de rebeldia no colégio, acabava saindo com o grupo de amigas inseparáveis e sempre fazíamos festas em qualquer lugar, precisava apenas ter bebida, é claro! Lógico que fiquei com muitos carinhas e a Duda também, mas no fim eles eram sempre um tédio e não suportava sair com eles por muito tempo. Sempre me enjoei com facilidade dos homens, porém, ainda tenho alguns encontros – a Duda sabe, não se espante! Explicarei de modo simples e claro: eu gosto de sexo clássico (homem e mulher) de vez em quando, por assim dizer. E ela também. Aproveitamos quando tem alguém que não saiba desse nosso relacionamento aberto.
A minha história com homens sempre acabou em choros e mágoas. Eu ficava ressentida por não ter um corpo escultural como das minhas irmãs e ser tão pouco desejada, daí, quando não era eu quem não queria mais, eram eles que me davam um pé na bunda, ou não ligavam depois do primeiro encontro, ou sumiam e apareciam de vez em quando para uma saída rápida no cinema e depois sumir de novo. Era mais interessante para mim quando eu os deixava sozinhos e eles ficavam pasmos por eu não ter mais prazer em seus beijos nem dar uma explicação plausível, mas nem sempre era possível.
Depois da minha fase de rebeldia, chegou a fase depressiva e estressada – eu alternava entre essas duas, às vezes eram as duas ao mesmo tempo. Uma inconstância só! Isso tudo acontecia porque eu comecei a me sentir uma estranha dentro de casa. E não há coisa pior do que você não gostar de estar em sua própria casa.
Mas que coisa doida, não é?
Ali era para ser meu lugar predileto, porém, não era.
Parecia uma prisão.
E eu acabei sendo prisioneira em minha casa, em minha vida.
Isso era triste. E continuou sendo triste quando a Beca não passava mais tanto tempo comigo.
Devo confessar que sou uma pessoa muito dependente. Dependo das pessoas para me sentir feliz, como se elas fossem uma droga. Logo, logo eu estava viciada em alguém, alguma companhia, algum hábito, fosse o que fosse. Eu me viciava. Sempre fui apegada demais a minha irmã do meio, a Rebeca. Ela me compreendia e me ensinava coisas da vida, do mundo, tudo que me importasse ou que importasse a ela, pois logo me importaria. 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Trabalhando a (des)informação: sistemas midiáticos e o discurso manipulado

Ouvi bastante coisa no tocante a manipulação do sistema midiático e devo confessar que não foi nada bom. As pessoas têm o hábito de julgar tudo depois de ter visto apenas um pouco da coisa toda. O estereótipo de que jornalista ( e até outros profissionais da comunicação) é o vilão de toda história contaminou, digamos assim, as pessoas onde faço a faculdade de jornalismo. O que me revolta é saber que às vezes as pessoas não veem que não se trata apenas da mídia - e quando eu digo mídia incluo o estereótipo do jornalista vilão - estar fazendo ou não o papel de (des)informar. Na verdade, as pessoas se deixam levar pelo discurso pronto que aparece na TV, no rádio, na internet, nas revistas, no jornal impresso e, com isso, esquecem de que por trás desse discurso, confesso que manipulatório, elas devem ter ainda suas opiniões, suas verdades (porque cada um tem sua verdade), fazer suas escolhas mesmo diante da gama de opções que a própria mídia nos impõem, porém, mesmo assim, nós é que vamos e devemos escolher.
Não sei se estou diferindo dos discursos que tenho ouvido nos últimos dias, mas tenho uma certeza que ninguém vai me tirar: todos ainda fazemos nossas opções e ainda temos que arcar com as consequências. O que me deixa irada é ver que as pessoas depois que entram na faculdade, pelo menos lá eu vejo mais esse tipo de coisa acontecendo, começam a ter um modo de ver onde tudo ao redor está errado e aí começa a culpar todo o sistema midiático que manipula tudo e todos. Não culpo o sistema midiático, nem o sistema capitalista, acho que a questão está tão impregnada na sociedade que ajudamos a construir e por isso não vejo onde esses sistemas citados se encaixam para levar todo o crédito da culpa sozinhos.
O que quero deixar claro aqui é que respeito a opinião de todos que querem culpar, ou não, a manipulação da mídia, mas também quero que saibam: aprendi, antes de entrar para a faculdade de jornalismo, que as empresas que informam, que trabalham propagando a informação são, antes de tudo, geradores de lucro e nós, que somente recebemos a informação, podemos ou não aceitar isso. Eu ainda tenho o controle da televisão, ainda tenho como mudar a estação de rádio, ainda posso querer ler ou não aquilo que aparece a minha frente, como esse post agora. Lógico que falando assim as coisas parecem sempre com duas escapatórias (como numa equação binária) e sei que não é tão simples assim, existe aliás uma complexidade enorme que é trabalhada por detrás de tudo isso (questões psíquicas até), mas, mesmo assim, insisto naquilo que disse no início: estou revoltada com apenas esse olhar voltado para a profissão e profissionais da área.
Acho que para terminar esse "desabafo", se assim podemos considerar, gostaria que todos soubessem que, assim como Paulo Freire, a imprensa, esse sistema midiático de que tanto se fala mal pelos corredores da UFAL, ainda tem um papel importante no sentido de educar. Sim, educar! Através dela podemos ter noção do que a educação significa. Por isso, nos salve, Paulo Freire!

Jornalismo de TV

BISTANE, Luciana. BACELLAR, Luciane. Jornalismo de TV. São Paulo: Contexto, 2008.

De maneira simples e sucinta, as autoras dão uma mostra de como é e como se faz o jornalismo dentro das perspectivas televisivas; utilizando-se de comparação, por vezes, entre as principais diferenças do impresso, rádio e televisivo. A princípio, as autoras se baseiam na própria história do surgimento dos meios de comunicação – conquanto, reservando um capítulo, posteriormente, inteiro para uma descrição mais exata do conteúdo histórico mundial e brasileiro desde os anos 30 até o século vinte um numa análise do que o reflexo das ações, principalmente políticas do regime militar, pode modificar a estrutura dos meios de comunicação - principalmente do tipo de notícia veiculada.
Amparadas, ainda, nos problemas que a televisão vem enfrentando no tocante as críticas da então chamada “imprensa marrom” – termo empregado para mídias sensacionalistas – Bistane e Bacellar contam os bastidores das principais notícias televisionadas dos últimos anos que tiveram uma repercussão acima da média e que os instrumentos utilizados para sua formação receberam críticas de diversas origens sociais e políticas. Ao revelar como se faz uma notícia na íntegra, as autoras nos dão prova da perspicácia do telejornalismo utilizado como publicidade – seja para divulgar ideologia, seja espaço livre com maior audiência comercializado na programação.
Qual notícia deve ser veiculada? Como é o trabalho nas redações de telejornais? Todas essas e outras perguntas são respondidas pelas autoras que mostram o dia-a-dia da composição de alguns telejornais, visto que Bistane e Bacellar têm/tiveram acesso aos principais telejornais em atuação na televisão brasileira.
Por fim, o livro Jornalismo de TV é um instrumento de capacitação para estudantes que queiram participar da mídia televisiva, mas, também, é um aprendizado divertido dos bastidores reais e dos jargões do telejornalismo. Sem medo de errar, as autoras mostram situações que os mais conhecidos jornalistas passaram quando estavam fazendo uma reportagem, que, às vezes, não era apenas diversão, mas investigativo e com muita ação.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um lugar ao sol - fragmento

Ele chegou na hora marcada.
Na verdade, estava antes das 23h30min perto da casa de Anelise.
- Conseguimos – disse eufórico, seus olhos estavam vermelhos.
Entraram no carro e antes que David virasse a chave na ignição, Anelise interrogou-o.
- Você usou drogas, não é? – não esperou a resposta - Dê-me as chaves, David. Eu dirijo.
- Calma aí, cara – virou-se para Ane. – Confie em mim. Vamos conseguir – sorriu. – Amanhã vamos estar longe disso. Vai ser passado, Ane. Só passado.
Ela fechou os olhos. Sabia que estava confiando demais. Porém, voltou ao seu lugar e David ligou o carro. Partiram. Partiram para o desconhecido e para uma mudança em suas vidas...

[...] No carro, Amanda quis saber por que ele escolheu aquele caminho.
- David não iria mais para o interior. Só pode ser por aqui – Thiago tremia. – Espero chegar a tempo de interceptá-lo.
- Pensamento positivo – Amanda tocou-lhe o braço. – [...] Thiago! Ali na frente – ela apontou para o acidente.
Ele acelerou. Saiu do carro aos prantos e chegou perto do corpo que ia sendo fechado no saco preto. Quando viu o rosto não pôde segurar o grito que tinha na garganta.
- Não! – gritou o máximo; extravasou a raiva que tinha. Ficou abraçado ao irmão por algum tempo. Amanda não podia ver aquela cena e andou até a ambulância. Viu o corpo de Anelise inconsciente.

[...] O dia amanheceu nublado.
Os jovens, mais uma vez, estavam reunidos. Clara, Sabrina, Vivian, Jefferson, Dinho, Andrew e Mateus. Estavam lá para se despedir do amigo. Não podiam acreditar que aquilo havia acontecido.
- Vai ser difícil... – Amanda tentava falar, fechou os olhos e deixou uma lágrima cair. – Hoje nos despedimos de um amigo, irmão e filho amado. A dor que sentimos e vamos continuar sentindo não passará rapidamente – fez uma pausa. – A nós, pais e mães, cabe olhar fundo nos olhos de nossos filhos e notar que eles existem e são reais. Demonstrar e sentir esse amor que os jovens insistem em nos mostrar. Não deixem que mais um jovem seja tirado de nós... – ela andou até o caixão. – Adeus, David – colocou uma flor sobre seu corpo.
No cemitério, deram seu adeus definitivo ao amigo cantando sua canção predileta. As pessoas iam se dispersando e os jovens continuavam ali. [...] Clara caiu de joelhos, aos prantos. Sabrina correu até a irmã. Mateus apenas sentou-se em frente à lápide e pôs a última foto da banda Katrine, tirada na festa de despedida. A última apresentação. 
Depois de um tempo, um por um, os jovens foram embora. Mateus tirou uma caneta do bolso e riscou na lápide: SEMPRE ESTAREMOS JUNTOS. KATRINE.

[...] De volta ao cemitério vazio, Clara viu uma garota numa cadeira de rodas que falava como se mais alguém estivesse ali.
- Seus pais disseram que estaria aqui – Clara interrompeu-a e sentou ao seu lado.
Anelise virou a cabeça e sorriu do jeito mais triste. Ela leu o epitáfio: AMIGO, IRMÃO E FILHO AMADO.
- Acha mesmo que ele era um filho amado? – perguntou, mas não esperou resposta. – Todo mundo acha que fiquei triste por estar de cadeira de rodas, mas só estou triste porque David não conseguiu o que ele queria. Ser um filho amado. Assim, do jeito que eu e você somos – virou abrupta para Clara. – Você está desistindo?
- Sim. É mais fácil. E você?
- Vou continuar. Sempre faço isso. Continuo...
Pouco depois, Clara deixou o cemitério. Anelise enterrou a chave do seu quarto e escreveu na lápide: VENHA QUANDO QUISER. E se foi. Deixou-o descansar em paz.
Quando os jovens se reuniam para relembrar da banda Katrine, sempre tocavam a preferida de David. Nunca foi esquecido por nenhum de seus amigos. 
“SEMPRE ESTAREMOS JUNTOS. KATRINE.”

(Um lugar ao Sol, Anne Gomez.) 


sábado, 13 de agosto de 2011

M.T., prometo ser feliz!

M.T., eu prometo ser feliz!
Prometi isso e sabe o motivo? Porque você realmente me faz feliz. Juntei cada um dos momentos que passamos juntas e descobri que já sou feliz só de tê-la em minha vida. O mundo inteiro pode achar que nossa amizade é superficial ou que atrás do "eu te odeio" que tantas vezes ouviram você me dizer era um real eu te odeio, mas só nós sabemos que por trás dele há um imenso amor. Eles falam que do jeito que somos não dá pra entender nossa amizade, porém, não sentem o que eu sinto por você. O pior, não sentem o que você sente por mim! Coitados! Se tivessem uma M.T. na vida deles... ah, como seriam felizes como eu sou.
Eu te prometi que nunca mais vou deixar isso acontecer de novo e sabe por quê? Porque já levei três choques de realidade em minha vida. Há alguns anos, uma outra grande amiga me chamou de egoísta porque eu queria me tirar da vida dela. Hoje mais cedo, minha mãe me deu meu 2º choque de realidade ao falar que não corro atrás dos meus objetivos. E depois, você disse que ninguém ia gostar de mim se eu não gostasse. Depois desses 3 choques sabe o que penso? Que sou amada imensamente! E por isso, já sou feliz.
M.T., eu prometo ser feliz! 
Porque já sou... ao tê-la como uma amiga. Rimos juntas, choramos juntas, nos abraçamos, nos xingamos e quer saber? Se não tivesse sido com você com quem seria? Como eu iria passar os quatro últimos anos da minha vida? Caraca! Eu te amo muito e sou muito feliz ao seu lado (mesmo distantes). Quer saber? Temos facebook, orkut, messenger, twitter, mandamos sms mas só falando pessoalmente para acabar a saudade que tenho das nossas conversas.
M.T., eu prometo ser feliz! 
Amo você demais... Desculpa pelos momentos em que fui inútil na sua vida. Desculpa pelos momentos em que te deixei nervosa. Desculpa por qualquer coisa que eu tenha feito e que de alguma maneira te distanciou de mim.
"A verdadeira felicidade se constrói nos acidentes de percurso, na alternância dos eventos da vida." Augusto Cury.

Feliz dia do...


Pai,
Não existe mais o "pode ser", porque hoje somos Pai e Filha. Ainda não nos conhecemos, mas começamos a ser grandes amigos.
Pai,
Sei que daí você sente...
Mas tenha certeza de que "eu vou indo"
e pedindo que você venha mais uma vez.
Pai,
Já fiquei muda muitas vezes pra não te dizer que Eu te amo!

Pai,
Diga também que me ama.
E perdoa todo esse tempo inseguro, mas eu não sou "aquela criança", como diz... "Eu cresci e não houve outro jeito". Agora quero pedir, também, que venha aqui em casa e me faça rir das coisas bobas que sempre fez pra mim.
Pai,
"Você foi meu herói, meu bandido
Hoje é mais
Muito mais que um amigo".
Eu te amo! Feliz dia do... PAI!

A Sergio de Moura Gomes, meu pai.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

No final do arco-íris [4]


Nossa história parece incomum para a maioria das pessoas.
Tínhamos 20 anos, mas a Duda era mais responsável que eu. Éramos estudantes universitárias sem muito dinheiro, logo, tínhamos ajuda de nossos pais para nos sustentar. Bem, na verdade, ela tinha uma pensão deixada pelo seu pai – sua mãe não morava com ela (conosco) – e ainda trabalhava na faculdade de psicologia como monitora. Ganhava pouco, mas era mais que eu, e juntas conseguíamos sustentar a casa.
Enquanto eu, pobre Natasha, não falava com meu pai e a minha mãe chorava toda vez que eu ligava pedindo que depositasse logo meu dinheiro – essa parte do choro é, com certeza, de família – e Eduarda era do tipo independente.
Minha mãe insistia que eu voltasse para casa e deixasse toda aquela história de união para trás. Dizia que me aceitava com a Duda, mas no fundo tentava ser igual à mãe da Eduarda – que resolveu entender a opção da filha – para depois não a criticarem por ser careta. A Beca sempre aceitou o fato de eu me relacionar com uma mulher em vez de um homem, achava aquilo normal, mas para o resto da família não passava de um ultraje. Meu pai dizia que isso atrapalharia seus negócios, pois se relacionava com muita gente religiosa e era evangélico – dono de uma rede de óticas – e Samanta seguia seus passos no estilo mais preconceituoso de todos – ela era católica praticante e jurava que na bíblia estava escrito que Deus não aprovava uma união homossexual.
Há um ano resolvemos morar juntas porque, apesar do meu pai passar o dia fora, todos na casa – os empregados principalmente – comentavam do meu relacionamento com a Eduarda e isso o incomodava. Minha mãe nos defendia tentando convencê-lo de que aquilo era mais uma de minhas fases. Porém, não adiantou. Eu e ele brigávamos todos os dias e quando não era com ele, era com a Sam. Então resolvemos morar juntas, seria nosso espaço sem ninguém para criticar.

Suicídio Imaginário

"Há o suicídio imaginário (desejo de sumir, desejo de dormir e não acordar mais), o suicídio físico e o suicídio psíquico, refletido pelo alcoolismo, dependência de outras drogas, comportamentos autodestrutivos, auto-abandono." Augusto Cury.


Fechei a porta. Não queria ouvir as vozes que vinham lá de fora. Era aquilo que me fazia não querer viver. E eu já não vivia há tempo. Sei disso porque no reflexo meus olhos não tinham vida. Vagava pela casa, pela rua, por entre as pessoas. Eu era mais uma alma perdida. Perdi para a vida que decidiu não mais viver.
Fechei os olhos. Não queria ver as imagens que apareciam no espelho. Só o cérebro trabalhava. Ouvi dizer que ele quer sobreviver, mas eu não. Que pena não comandá-lo! A consciência não me deixava dormir. À mente vinham todas as conversas, todas as vozes, todas as imagens, todas as agressões (autoimpostas) sofridas. Eu só queria não viver.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

No final do arco-íris [3]


Ainda estávamos na cozinha.
Contava cada detalhe para Duda que mesmo com sono fazia um esforço para me escutar.
- E a Beca não estava lá? – perguntava sobre minha irmã.
- Ah, sabe como ela é. Saiu com um carinha super gato – falei coma boca cheia de pão e  queijo derretido numa liga entre minha boca e o sanduíche.
- Não bebeu muito, não é, Natasha? – perguntou preocupada. Sua mão tocava meu rosto carinhosamente.
Fiz uma cara de retidão.
- Desculpe, mas você nunca está lá para beber comigo... – fiz uma pausa. – Desculpe!
- Hum – ela fez um biquinho. – Prometo que da próxima vez estarei lá para te proteger desses cretinos que só querem te embebedar para que você seja a palhaça da vez.
Nós rimos alto.
- Psiu – ela fez.
- Você está sendo malvada comigo. E com eles – mordi o sanduíche novamente. – Mas eles merecem – falei com a boca cheia mais uma vez.
Ficamos conversando mais um pouco na cozinha e depois ela me forçou a tomar banho.
Confesso!
Estava cansada e queria dormir, mas a Duda sempre me convencia a fazer a coisa certa na hora certa. Depois do banho fui me deitar. Ela estava de olhos fechados.
- Tá dormindo? – perguntei me enfiando debaixo de sua coberta. O quarto estava frio, era inverno. Geralmente, ela usava uma colcha só para ela, pois me mecho demais à noite, mas hoje eu dormiria ainda mais colada nela. Estava com mais frio que nas outras noites por causa do banho gelado que havia tomado.
- Se você me deixasse dormir – ela abriu os olhos e ficamos ali olhando uma para a outra. Sorrisos singelos e cafunés e, depois de algum tempo, estávamos dormindo.


Nossa história parece incomum para a maioria das pessoas... 

"São só vândalos?"

O que está acontecendo com os jovens (londrinos, chilenos ou qualquer nacionalidade)? O que as autoridades competentes para lidar com a situação ainda pensam em fazer?
Estou realmente chocada com o nível de violência nos confrontos entre jovens e policiais em todo o mundo. Lutar por seus direitos não deveria tirar o direito de outros de andar livremente por algum local, falar sobre algo, querer algo.
Assistia ao jornal nessa noite e pude ver alguém pulando de um prédio em chamas (uma mulher) e isso me lembrou algum dos ataques terroristas - como se não pudermos chamar de outra coisa os últimos acontecimentos. Estou com medo de como serão os próximos dias e de como o mundo irá reagir depois de mais tragédias que podem ser evitadas.






Lutar por um direito seu é ótimo, mas por que tanta violência? "São só vândalos?", o comentarista do Jornal do SBT falava. Não, não tenho a resposta, mas sei que precisamos de mais amor e respeito nesse mundo cada vez mais impiedoso.



"E acreditam nas flores vencendo o canhão"

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Irmãos, a palavra de Deus

Respeitar ao próximo, nos disse Jesus ao falar que deveríamos "amar ao próximo como a nós mesmos", porém, como muitas outras coisas, interpretamos da maneira que mais nos faz bem. Estive procurando escrever algo essencialmente metafórico e, num lampejo, lembrei-me da Bíblia, um livro contendo todas as metáforas da vida e, por conseguinte, da escrita. Como já escrevi, a Bíblia é um livro essencialmente metafórico e nós, irmãos, o interpretamos da maneira que melhor nos tem serventia.
Essa pequena grande introdução explicativa antecede aquilo sobre o que realmente quero falar. Mais uma vez, eu estava no ônibus indo para a faculdade e uma mulher me chamou a atenção - na verdade, gritou (literalmente) - ao falar sobre a palavra de Deus. É claro que sendo um mandamento de Cristo, e principalmente uma conduto presente na minha educação, respeitei sua maneira de se expressar, afinal expressar-se também é uma conduta presente na minha educação. A senhora esbravejava sobre o orgulho dos homens, a volta de Jesus, as 39 chicotadas que ele levou sem anestesia (dados concedidos por ela) e sua coroa de espinhos; falava que muitos chamavam-na de louca por estar ali, mas se mantinha perseverante ao chamar mais soldados para o exército de Deus.
Não posso, nem quero, criticá-la por tal ato, mas já comentei aqui que não somos uma ilha e por isso seu direito termina quando o meu começa, então, meu direito de querer uma viagem em silêncio até a faculdade foi ferido. E isso tirou o pouco da paciência que Deus me deu. Irmãos, ouçam (leiam) o que tenho a dizer: "o silêncio vale por mil palavras". E respeito é bom e todos gostamos.

domingo, 7 de agosto de 2011

Lutando contra escorpiões


Quantos escorpiões encontramos em nossas vidas? Quantas ferroadas levamos? Quanto tempo demoramos a adquirir coragem para matá-los?
O dia amanheceu caloroso e receptivo naquele sábado, aos vinte dias de março. A casa estava silenciosa. Uma pequena bagunça havia se formado nos quatro cantos do cômodo da casa alugada pela única residente. Ana estava disposta a arrumar a casa e a vida durante as primeiras horas daquele dia quando abriu os olhos e, logo, olhou-se no grande espelho colocado ao pé da imensa cama que abrigava o corpo quente, ainda enrolado nos lençóis.
Decidida a não perder tempo consigo, pôs-se de pé e fez as recomendações em voz alta, para que apenas ela ouvisse.
- Varro, lavo o banheiro, coloco a roupa na máquina, lavo os pratos, passo pano na casa, estendo a roupa, almoço e faço minha unha.
Suspirou cansada ao pensar nas tarefas do dia. Começou logo a varrer a casa, envolvida no ritmo empolgante da música solta pelo ar. As ondas sonoras corriam cômodo a cômodo numa misteriosa perseguição pela pequena Ana, que concluía aos poucos a primeira tarefa imposta.
Já cansada e com ânimo inicial desgastado, a pequena residente deliciou-se com a água que corria garganta abaixo, matando a sede. O banheiro seria sua segunda tarefa naquele sábado. O sol penetrava na casa, irradiando-a de luz. Ali, no pequeno cômodo úmido, onde tantas vezes Ana chorou e desabafou em frente ao espelho, aguardava-lhe uma diminuta surpresa.
A moradora da casa 15 de uma rua paralela à principal em um bairro com nome de santo havia notado diversas vezes a ocorrência do aparecimento de um inseto comum em lugares de abandono higiênico: a barata. Ana vinha numa crescente onda de desleixo, com relação à limpeza geral da casa. Somente naquele sábado faria a faxina da humilde residência. Preparou o balde com os produtos de limpeza e esfregou cada canto do cômodo. O banheiro estava limpo e exalando essência de lavanda com um misto de pinheiro. Faltava, agora, recolocar os objetos no lugar. Embora o trabalho tivesse sido executado com sucesso, a asquerosa surpresa apareceu debaixo de um elemento de limpeza, com compartimento espaçoso que abrigou o pequeno e extraordinariamente venenoso escorpião durante tempo impossível de determinar. O susto paralisou Ana e fez seu coração acelerar, fazendo o suor escorrer e exalando medo. A respiração tornou-se pesada.
Seu último encontro com um animal da mesma espécie surtiu efeito parecido, porém, não estava sozinha. A ajuda ofertada no primeiro encontro fê-la permanecer em posição fetal, enquanto o escorpião era levado para um mundo diferente do dela. Agora, sozinha, ainda saboreava a inércia e olhava para o perigoso e minúsculo ferrão que a fazia surtar de medo. O cheiro do perigo pairava no ar e fazia com que a música tocada não fosse mais ouvida. Ana conseguiu engolir a saliva formada na boca entreaberta. Tentou controlar o ritmo respiratório e acalmou-se a ponto de erguer a arma do crime e matar o pequeno ser. O corpo ficou largado na porta do banheiro, enquanto a assassina bebia água e acalmava as mãos “manchadas de sangue”.
O dia conseguiu transcorrer, à medida do possível, normalmente. Logo no domingo de manhã, uma forte tristeza desmoronou a pequena Ana. Solidão ou culpa?
No mesmo dia, com a voz embargada, confessou o ato criminoso, tentando expurgar a maldade da cena que vinha em sua mente. Quatro dias se passaram. Confusões, choros e risos compuseram os dias dramáticos transcorridos.
Hoje, aos 25 dias de março de 2010, às 17 horas desta quinta-feira, Ana se dirigiu ao banheiro e teve um flash back de sábado.
- Não pode ser... – falou em um fio de voz.
Lá estava ele. Ressuscitado?! Preparado para o ataque. Com sua lança venenosa levantada e pronta para acertar ferroadas em sua vítima. A casca grossa da indefesa barata foi penetrada pelo ardiloso escorpião. Quantas vezes aquilo aconteceu antes da pequena Ana ter aparecido no banheiro? Quantas vezes a cena se repetiria até que Ana tomasse uma atitude?
Mais uma vez a respiração pesou, o coração acelerou, mas, num instinto de sobrevivência, Ana pegou outra vez a arma do crime. Um. Dois. Três golpes. Sua vítima já estava morta e, agora, ele era a vítima que jazia naquele banheiro. Ana olhou-se no espelho e enxergou quem havia se tornado. Não existia amis medo, não existia insegurança. Existia apenas a assassina... de escorpiões. Agora, havia adquirido a confiança necessária para executar os desígnios de sua própria vida.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Olhos de Ricardo

Ricardo aprendeu a enxergar quando saiu de sua mãe.
Via um homem vestido de branco que parecia grande naquela posição e que lhe batia e chorar ainda mais isso fazia.
Enquanto seu choro era apaziguado porque agora ele vivia, viu sua mãe que também chorava, mas que também sorria numa profusão de sentimentos que ele nem conhecia.
O menino continuou enxergando e gostava de ver o que via. Observava tudo o que ante os olhos aparecia. Via o sol que o seguia; via a lua que o acompanhava; via os carros, os ônibus; via as gentes que seguiam os carros e os ônibus. 




Ele via as mãos estendidas e calejadas de Maria, via as roupas sujas e rasgadas de José, via os pés descalços e feridos de João e então viu que não gostava do que via.
O garoto transformou-se em homem e aprendeu a enxergar aquilo que ninguém conseguia. Agora ele entendia porque a mãe chorava e sorria. Agora entendia porque Maria, José, João e tantos outros que ele via não conseguiam também ver o sol e a lua que os seguia.
Aqueles que não viam não tinham vida para viver.
Por isso não podiam ver.  



Ricardo aprendeu a enxergar quando saiu de sua mãe.
Porém, agora já não via porque preferia não ver aquilo que tanto o afligia.