terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um lugar ao sol - fragmento

Ele chegou na hora marcada.
Na verdade, estava antes das 23h30min perto da casa de Anelise.
- Conseguimos – disse eufórico, seus olhos estavam vermelhos.
Entraram no carro e antes que David virasse a chave na ignição, Anelise interrogou-o.
- Você usou drogas, não é? – não esperou a resposta - Dê-me as chaves, David. Eu dirijo.
- Calma aí, cara – virou-se para Ane. – Confie em mim. Vamos conseguir – sorriu. – Amanhã vamos estar longe disso. Vai ser passado, Ane. Só passado.
Ela fechou os olhos. Sabia que estava confiando demais. Porém, voltou ao seu lugar e David ligou o carro. Partiram. Partiram para o desconhecido e para uma mudança em suas vidas...

[...] No carro, Amanda quis saber por que ele escolheu aquele caminho.
- David não iria mais para o interior. Só pode ser por aqui – Thiago tremia. – Espero chegar a tempo de interceptá-lo.
- Pensamento positivo – Amanda tocou-lhe o braço. – [...] Thiago! Ali na frente – ela apontou para o acidente.
Ele acelerou. Saiu do carro aos prantos e chegou perto do corpo que ia sendo fechado no saco preto. Quando viu o rosto não pôde segurar o grito que tinha na garganta.
- Não! – gritou o máximo; extravasou a raiva que tinha. Ficou abraçado ao irmão por algum tempo. Amanda não podia ver aquela cena e andou até a ambulância. Viu o corpo de Anelise inconsciente.

[...] O dia amanheceu nublado.
Os jovens, mais uma vez, estavam reunidos. Clara, Sabrina, Vivian, Jefferson, Dinho, Andrew e Mateus. Estavam lá para se despedir do amigo. Não podiam acreditar que aquilo havia acontecido.
- Vai ser difícil... – Amanda tentava falar, fechou os olhos e deixou uma lágrima cair. – Hoje nos despedimos de um amigo, irmão e filho amado. A dor que sentimos e vamos continuar sentindo não passará rapidamente – fez uma pausa. – A nós, pais e mães, cabe olhar fundo nos olhos de nossos filhos e notar que eles existem e são reais. Demonstrar e sentir esse amor que os jovens insistem em nos mostrar. Não deixem que mais um jovem seja tirado de nós... – ela andou até o caixão. – Adeus, David – colocou uma flor sobre seu corpo.
No cemitério, deram seu adeus definitivo ao amigo cantando sua canção predileta. As pessoas iam se dispersando e os jovens continuavam ali. [...] Clara caiu de joelhos, aos prantos. Sabrina correu até a irmã. Mateus apenas sentou-se em frente à lápide e pôs a última foto da banda Katrine, tirada na festa de despedida. A última apresentação. 
Depois de um tempo, um por um, os jovens foram embora. Mateus tirou uma caneta do bolso e riscou na lápide: SEMPRE ESTAREMOS JUNTOS. KATRINE.

[...] De volta ao cemitério vazio, Clara viu uma garota numa cadeira de rodas que falava como se mais alguém estivesse ali.
- Seus pais disseram que estaria aqui – Clara interrompeu-a e sentou ao seu lado.
Anelise virou a cabeça e sorriu do jeito mais triste. Ela leu o epitáfio: AMIGO, IRMÃO E FILHO AMADO.
- Acha mesmo que ele era um filho amado? – perguntou, mas não esperou resposta. – Todo mundo acha que fiquei triste por estar de cadeira de rodas, mas só estou triste porque David não conseguiu o que ele queria. Ser um filho amado. Assim, do jeito que eu e você somos – virou abrupta para Clara. – Você está desistindo?
- Sim. É mais fácil. E você?
- Vou continuar. Sempre faço isso. Continuo...
Pouco depois, Clara deixou o cemitério. Anelise enterrou a chave do seu quarto e escreveu na lápide: VENHA QUANDO QUISER. E se foi. Deixou-o descansar em paz.
Quando os jovens se reuniam para relembrar da banda Katrine, sempre tocavam a preferida de David. Nunca foi esquecido por nenhum de seus amigos. 
“SEMPRE ESTAREMOS JUNTOS. KATRINE.”

(Um lugar ao Sol, Anne Gomez.) 


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