Minha adolescência. Eu já não vivia. Seguia. Seguia
os passos das outras pessoas porque não sabia o que era a vida realmente, não
sabia como vivê-la. Não me ensinaram a ouvir, olhar, falar... acho que nem a
sentir. Não sentia nada além da dor de estar encarcerada dentro de mim.
Quem
pode nos ouvir quando não falamos? Quem pode nos enxergar quando não enxergamos
a nós mesmos? Quem pode falar conosco quando todos tinham que seguir suas vidas
para alcançar o topo de suas histórias? Eu não existia realmente (nem sei se
hoje existo). Robotizei-me como qualquer um faz quando repete as ações muitas
vezes. Eu repeti a mesma mentira pra
mim e ela se tornou minha verdade. “Você não existe. Faz parte da sua
imaginação como todas aquelas histórias da infância”.
Aprendi
a escrever.
Fui obrigada. Frequentei uma clínica psiquiátrica e lá me disseram que alguma
coisa eu deveria fazer para me expressar. O
quê? Passei a ler, ler e engolir palavras, frases, histórias, vidas,
personagens... Passei a ler e escrever. Transcrever, primeiro, aquilo que lia e
depois de muito tempo eu criava personagens e aquelas palavras engolidas foram
regurgitadas e formavam histórias, minhas histórias. Minha adolescência fez-me voltar
a imaginar e eu comecei a minha história.