Amassei
mais uma folha de papel. Todas as palavras que nela continham já estavam
riscadas ou interminadas. “Como isso está acontecendo comigo?”, nos últimos
três meses fazia-me essa mesma pergunta. Não saía de casa na esperança de poder
achar alguma palavra dentro da mente e pô-la no papel. Quando vinham me chamar
novamente, bocejava e respondia estar cansada e com sono. Cansada de quê? De não conseguir mais fazer a única coisa que me fazia
sentir que estava viva? Sono? Não era uma ardência nos olhos de tanto chorar?
A cesta
estava tão cheia que os papeis amassados começavam a cair. A casa estava cheia
de vazio. O pó dos móveis era minha companhia. As fotos pareciam
irreconhecíveis sob as teias das aranhas. Detesto aranhas, por isso, continuava
no quarto. Levei a cafeteira para lá e fiz do lugar meu refúgio. Da última vez
que saí de casa não me olhei no espelho e não sabia o estado que estava e fui
comprar minha droga predileta: cafeína. Ao chegar, me olhei no reflexo do
portão. Sorri tristemente constatando o motivo das pessoas tanto me olharem na
rua.
“Três
meses”, continuava a falar sozinha. Eu gritava, na verdade. “Como isso está
acontecendo comigo?” Eu vivia disso. Psicologicamente era minha terapia.
Financeiramente, meu sustento. As palavras fugiram, nem elas conseguiram
suportar a solidão e a umidade da casa... e a minha. Havia pedido para
trabalhar em casa numa maneira de me proteger dos males do mundo e agora
descobri que sem o mundo o mal ainda me acompanha.
Não
conseguia nenhum manuscrito meu. Fui até minha máquina de escrever predileta
que ganhei de presenta da minha mãe depois de garantir o primeiro lugar num
concurso de contos, mas foi em vão. No computador foi pior ainda: detesto
escrever nele porque a página em branco me assombra. Nem ao menos uma mensagem
no celular conseguia escrever. Pensei em gravar meus pensamentos depois que
passassem pelos meus lábios, mas calei-me.
Dormi.
Acordei. Tomei café. Traguei meio cigarro. Tomei café. Tentei aliviar o corpo
num banho gelado e demorado. Porém, o corpo está acostumado com essa vida, mas
a mente não. Pensei em voltar a tomar meus remédios. Se eu fizesse aquilo,
teria que voltar à clínica. Detesto consultas psiquiátricas. Fechei os olhos,
pelo menos assim eu poderia voltar a viver como sempre imaginei que vivia.
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