domingo, 18 de setembro de 2011

A imaginária vida de Anne


Abri os olhos. Não sabia onde estava. Nunca soube onde estar. Nunca tive um lugar só meu. Além do meu lugar predileto: minha mente, claro. Tudo estava escuro. Tateava e encontrava só o espaço. Espaço entre um pensamento e outro. Espaço entre uma vida e outra. Espaço... Só há espaço.
Lembrei-me da infância, da adolescência, da juventude, da velhice e da morte tão trágica. “Onde estou?”, “O que está acontecendo comigo?”, “Tudo pode ser possível quando imaginado”. Não queria mais ouvir aquilo. Estourava meus tímpanos. Meu ouvido doía. Minha mente doía. Meu corpo... meu corpo? Eu não estava nele, isso eu sabia.
Sempre me imaginei sendo um nada. Mas como o nada se parece? Como saber o que, quem, como, onde, por que eu era? Sou uma personagem? Sou real? Tenho vida? Eu existo? Tinha lembranças... isso é prova de que vivi? Tinha pensamentos... isso é prova de que existi? Eu não sei. Na verdade, nunca sei de nada realmente. Engano-me e os engano dizendo que sou forte, existo, vivo... respiro.
Um nada. Um zero à esquerda, uns diriam. Mas qual é a verdade? Onde ela se encontra? Por hora, agora, nesse instante, nesse vazio, nesse tempo a única coisa que penso saber é que não estava no meu corpo. Estava no vazio. De quê? Eu também sei.

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