terça-feira, 20 de setembro de 2011

A vida imaginária de Anne


Minha infância. O que me lembro? Como eu era? Começo a ver alguns de meus passos... Eu era pequena, frágil. Chorava por tudo e sorria pelos mesmos motivos. Eu dançava. Eu cantava. Eu lia. Porém, não escrevia. Não gostava de escrever histórias, gostava de vivê-las. Vivia histórias épicas, modernas, brincava sozinha, acompanhada, tinha filhos, era casada, fui professora, fui advogada, fui jornalista, mas eu era apenas uma criança.
Minha infância sofreu com acontecimentos trágicos. Eu sofri com acontecimentos trágicos. Superei-os (assim eu digo a todos). A boneca do papai e princesinha da mamãe se distanciava desse cargo cada vez que mais um dia raiava. Eu crescia e deixava de sonhar, de imaginar, de cantar, de dançar, de brincar. As lágrimas se tornaram mais frequentes do que o sorriso. Eu não entendia aquilo. Eu não entendo isso.
Minha infância passou. Ela me calou, amordaçou, tapou minha garganta e cortou minhas cordas vocais. Meus olhos não viam, não conseguiam enxergar e enviar a mensagem do que eu estava vendo para meu cérebro. Não ouvia os sons do mundo lá fora, do mundo aqui fora. Minha infância fez minha mente funcionar mais do que meu corpo.
Calei-me. Tapei os ouvidos. Fechei os olhos. Aprisionei-me nas grades verossímeis paralelas ao real, me aprisionei dentro da mente. Minha infância iniciou minha vida.

2 comentários:

  1. Acho que é na infância em que todos iniciam a vida. Ter uma infância ou não, é o que faz toda a diferença no decorrer da vida... Influencia nos pensamentos, logo influencia no agir. Belo texto, como sempre! =)

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