Minha infância. O que me lembro? Como eu era?
Começo a ver alguns de meus passos... Eu era pequena, frágil. Chorava por tudo
e sorria pelos mesmos motivos. Eu dançava. Eu cantava. Eu lia. Porém, não
escrevia. Não gostava de escrever histórias, gostava de vivê-las. Vivia
histórias épicas, modernas, brincava sozinha, acompanhada, tinha filhos, era
casada, fui professora, fui advogada, fui jornalista, mas eu era apenas uma criança.
Minha
infância sofreu com acontecimentos trágicos. Eu sofri com acontecimentos
trágicos. Superei-os (assim eu digo a todos). A boneca do papai e princesinha
da mamãe se distanciava desse cargo cada vez que mais um dia raiava. Eu crescia
e deixava de sonhar, de imaginar, de cantar, de dançar, de brincar. As lágrimas
se tornaram mais frequentes do que o sorriso. Eu não entendia aquilo. Eu não
entendo isso.
Minha infância
passou. Ela me calou, amordaçou, tapou minha garganta e cortou minhas cordas
vocais. Meus olhos não viam, não conseguiam enxergar e enviar a mensagem do que
eu estava vendo para meu cérebro. Não ouvia os sons do mundo lá fora, do mundo
aqui fora. Minha infância fez minha mente funcionar mais do que meu corpo.
Calei-me. Tapei os ouvidos.
Fechei os olhos. Aprisionei-me nas grades verossímeis paralelas ao real, me
aprisionei dentro da mente. Minha
infância iniciou minha vida.
Acho que é na infância em que todos iniciam a vida. Ter uma infância ou não, é o que faz toda a diferença no decorrer da vida... Influencia nos pensamentos, logo influencia no agir. Belo texto, como sempre! =)
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