O vidro
da janela estava limpo daquela vez. Podia olhar o jardim lá fora. Gosto da
natureza. Porém, ali só havia grama. “Quem é aquela?”, apontei para uma mulher
sentada com um livro na mão esquerda e um lápis na direita. “O nome dela é Ana”,
ele respondeu. Surpreendentemente a ética profissional de não falar sobre seus
pacientes não o deteve naquele momento. “Ela está aqui porque sofre não sabendo
quem é. Sente-se usada por ela e pelo mundo. Acorrentada entre as personagens
que cria e o mundo verossímil”. Apontei para uma menina que também estava no
jardim. “Seu nome é T.G. Tem 18 anos e está aqui desde seus quinze. Pediu para
ser internada. Sofre por não conseguir ser mais do que ela realmente é. Cansou
de pedir para morrer e quis tirar folga de si vindo para cá”. “E aquela outra
que conversa com elas?”. Ele contemplou o nada por um tempo. “Tatiane Gomes.
Ela vem aqui todos os dias regar”, enfim falou. “Mas só tem grama no jardim”,
retruquei. “Quem disse que rega o jardim? Ela rega a consciência das outras”. “Isso
é possível?”. “É possível um médico falar de outro paciente para o seu atual?”,
esperou que aquilo atingisse fundo na minha consciência. “Tudo pode ser
possível quando imaginado”.
Olhei
para as três no gramado. Olhei para o espelho que havia aparecido num passe de
mágica na minha frente. “Por que isso está acontecendo comigo?”, voltei a
questionar. Éramos/somos nós. Costumo me dividir em múltiplas vidas e agora não
sabia qual delas viver ou se ainda restara alguma vida a ser vivida. “Tudo pode
ser possível quando imaginado”, a voz dele ecoava em minha cabeça que girava em
volta das minhas próprias memórias. Olhei pela janela e tudo era mais distante
que o natural. Ana, T.G. e Tatiane sorriam para mim, mas cada vez que eu
piscava me distanciava mais delas. Eu precisava de café. E mais um cigarro. Eu
precisa, na verdade, conseguir (des)escrever tudo aquilo.
Essa sua coisa de múltipla personalidade lembra bastante coisa de filme...
ResponderExcluirE o fato de vc se colocar em questão, sabe? Muito demais... É estranho.. Você meio que” auto se analisa”. É como que você “enlouquecesse”, mas, que não fosse muito longe na sua loucura.. Ou imaginação... Quem sabe por que a Tal Tatiane Gomes não permitisse... Essa seria justamente a hora que ela vem regar as outras todos os dias...
Tipo, eu não sei ao certo se descrevo: do inicio do texto pro meio, me parece um final de filme... Mas logo depois me dou conta de que é só o começo.
Gostei de verdade!!! Adoraria vê essa história continuar... Por que não em filme? =D
kkkkkkkkkkk
ResponderExcluirFilme?! Nu chegaria a tanto. Minhas expectativas vão até um livro. Mas provável não. :D