quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A imaginária vida de Anne


Eu sabia onde estava. Eu estava no vazio da mente. Depois de um longo tratamento, me libertei das grades ilusórias que não me permitiam ser quem eu realmente sempre fui: Ana, T.G. e Tatiane. Naquela sala, através da janela, eu as vi sorrindo para mim, mas cada vez que eu piscava me distanciava mais delas. Eu as tinha guardado na mente. Eu vivia dentro da minha mente.
T.G. minha personagem da vida adolescente que imaginei viver.
Ana minha personagem da vida jovem que imaginei viver.
Tatiane minha personagem da vida envelhecida que imaginei viver.
Eu, dentro da minha vida imaginária, era todas elas em cada fase da existência. Minha infância me calou. Estou calada. Mas minha imaginação vive dentro de mim. Sou um mundo, um universo intangível dentro da mente.
Ainda estou em tratamento na clínica psiquiátrica. Meus pais sucumbiram à minha doença e abdicaram suas responsabilidades. O médico é legal. As enfermeiras são legais. Têm outras crianças aqui também. Eu ainda não escrevo. Vivo imaginariamente minha vida. E, durante a análise, conto minhas histórias.
Talvez, quem sabe, eu posso ser cada uma das minhas personagens e viver aquilo que elas viveram. A vontade de escrever, de ler, de sentir prazer, de ter amigos, de tomar café compulsivamente e fumar (como as enfermeiras daqui), de envelhecer sem ter filhos, de ter todos os problemas que elas tiveram, é, talvez, eu até queira isso para mim.  Mas por hora, observarei apenas.

2 comentários:

  1. Muito bom! A imaginária vida de Anne daria um ótimo curta!

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  2. Modifiquei algumas coisas. Vou melhorar o texto ainda mais. Principalmente esse final.

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