Minha velhice. Não casei. Não tive filhos. Não
tive netos. Envelheci sozinha. No mesmo apartamento. Trabalhando para a mesma
editora. Eu continuava a mesma com algumas rugas a mais, algumas rusgas também.
A família foi morrendo aos poucos como toda pessoa que fecha um ciclo de vida.
Novos familiares foram surgindo, mas não os conheci. Não voltei à clínica, não
voltei aos remédios, não voltei ao terapeuta. Afinal, depois de tantos anos a
gente aprende como viver sozinha sem precisar da ajuda de ninguém.
Adoeci
várias vezes. Tenho problemas estomacais desde a juventude. Tomar café, e só
café, por um dia inteiro tem consequências. Voltei do hospital com o último
exame. “Câncer no estômago”, falei
alto e aquilo ecoou pela casa toda. Não procurei amigos nem família, sempre
estiveram ocupadas demais com suas vidas, suas histórias.
Não tinha o que reclamar sobre esse fim. Eu, depois
de tudo, vivi. Aprendi a viver na verdade. Não reclamo da infância, da
adolescência, da juventude nem mesmo da velhice com problemas de saúde. “É. Enfim, eu sou doente”, disse
sorrindo. Nunca quis envelhecer. Não tinha pretensão de chegar à velhice. Estou
aqui. Criei muitos personagens, escrevi
muitas histórias. Escrevi minha história. Minha velhice fez-me contar a
minha grande verdade: sou doente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário