segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A imaginária vida de Anne


Minha morte. Envelheci sozinha e morri da mesma maneira. Não foi fácil. Um processo doloroso, mais doloroso do que a morte em vida que sofri durante metade da minha história. Doeu saber que não escreveria mais, não leria mais, não respiraria mais. Doeu perceber que daquela doença não tinha como escapar, talvez nem quisesse realmente. Quando se está cansado, aceitamos o que vier.
O hospital deu total assistência. Era próprio para alguém que tinha câncer. Todos os dias vinha alguém me dar carinho e amor que eu, finalmente, sentia pela simples presença das pessoas. Alguns me ajudavam lendo romances, contos, crônicas, poesias. Eu prosseguia observando tudo.
O corpo não aguentava tanto como a mente. Ela sempre fora mais forte do que ele, no final eu percebi. De madrugada, eu sentia mais dor. Era um incômodo estar na presença da morte e ter que esperar a hora certa daquilo tudo acabar. Os remédios não adiantavam mais, porém, se eu dissesse isso aos médicos eles tentariam amenizar minha dor. Eu não queria amenizá-la, queria partir.
Num dia chuvoso, com raios e trovões, eu gemi alto de dor, sorri, fechei os olhos e parti. Minha morte fez-me voltar a enxergar aquilo que realmente sempre fui.

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