Água
dissimuladamente transbordada
[...]A sirene soou. Os escravos estavam livres do trabalho e voltariam para suas senzalas pessoais. [...]Todos eram ao mesmo tempo carrascos e prisioneiros. Carrascos em vidas alheias e prisioneiros em sua própria.
E eu? Sou apenas
expectadora.
Talvez uma
expectadora que preferiu se calar diante das injustiças e frustrações. Durante
muito tempo fui carrasco; daquele em que a pessoa treme só de ouvir o nome. Eu
não mudei, na verdade fui mudada, não pela vida, mas pelas pessoas. Sim, ainda
sou prisioneira, porém, não da vida, mas da mente que se trancou e me
aprisionou...
Porque não foi a
vida que me endureceu?! A vida não endurece as pessoas, pois elas que comandam
seus caminhos. As pessoas endurecem as pessoas, pois elas não podem ser
controladas.
Devem estar se fazendo
muitas perguntas sobre mim.[...]
Sou uma garota
comum, mais comum do que você pode imaginar, e isso deveria assustá-lo! Não tenho
amigos porque me afastei deles; as pessoas quase não ouvem minha voz porque
prefiro me calar a provocar mais uma grande confusão; tenho três irmãs e pais
separados – não disse que eu era mais comum do que você imaginava? - e, no
final de tudo, sou sozinha...
[...]Vocês devem estar
achando que eu procurei a solidão. E estão certos – como diria ... “triste
constatação” - mas não conseguem sentir o que eu sinto quando o galo canta e o
sol nasce, por isso não irão me entender.[...]Sinto-me
covarde, porém, sei que a tristeza me matará lenta e dolorosamente. E, no
final, minha voz silenciada será ouvida em meus versos.
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