segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Outono Imortal - 5


Acorde-me quando o outono acabar - Parte um
       Acabei locando a sala neste sábado quando houve um apagão. A vela queimou completamente durante duas horas e apenas o silêncio falava. Na verdade, o silêncio gritava verdades ensurdecedoras ao meu ouvido. Enquanto admirava a chama da vela, lembrava-me das minhas palavras de outrora. Escrevi a literatura-vida nessa última semana, espero ter sido boa companhia.
       O vento entrava pela janela, mas não era capaz de secar o rosto molhado pelo percurso das lágrimas. A dor que fazia o pranto rolar em minha face era muito mais forte do que o vento que conseguia apenas levar folhas secas para outros terrenos.
       Avistei a imagem de braças abertos à minha frente e notei que recebia um abraço consolador daquele que nem acreditava, mas admirava a filosofia, ele era o único que sempre esteve comigo nas horas de solidão nessa casa. Suas mãos perfuradas eram como as minhas, calejadas pelo lápis tanto usado.
       Eu não quero mais ser hipócrita! Usar máscara todos os dias me fez perder a identidade e, agora, sofro por não saber quem eu sou. O sistema me engoliu também, mas sou fraca para suportá-lo. Ele está asfixiando-me, mas não sabe que estou morta e só restou essa carcaça oca que desmorona facilmente.
       Uma vez li que o pior silêncio não é o da morte, mas o da vida. Estou baixando o volume da minha existência, logo irá ficar mudo. Não me desespero com o silêncio...
       “Não há mais sopro de vida”. Desacelerei meus passos e minha mente e corpo não aguentam... irei partir... para sempre...
       

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