Acorde-me quando o
outono acabar - Parte um
Acabei
locando a sala neste sábado quando houve um apagão. A vela queimou
completamente durante duas horas e apenas o silêncio falava. Na verdade, o
silêncio gritava verdades ensurdecedoras ao meu ouvido. Enquanto admirava a
chama da vela, lembrava-me das minhas palavras de outrora. Escrevi a
literatura-vida nessa última semana, espero ter sido boa companhia.
O
vento entrava pela janela, mas não era capaz de secar o rosto molhado pelo
percurso das lágrimas. A dor que fazia o pranto rolar em minha face era muito
mais forte do que o vento que conseguia apenas levar folhas secas para outros
terrenos.
Avistei
a imagem de braças abertos à minha frente e notei que recebia um abraço
consolador daquele que nem acreditava, mas admirava a filosofia, ele era o
único que sempre esteve comigo nas horas de solidão nessa casa. Suas mãos
perfuradas eram como as minhas, calejadas pelo lápis tanto usado.
Eu
não quero mais ser hipócrita! Usar máscara todos os dias me fez perder a
identidade e, agora, sofro por não saber quem eu sou. O sistema me engoliu
também, mas sou fraca para suportá-lo. Ele está asfixiando-me, mas não sabe que
estou morta e só restou essa carcaça oca que desmorona facilmente.
Uma
vez li que o pior silêncio não é o da morte, mas o da vida. Estou baixando o
volume da minha existência, logo irá ficar mudo. Não me desespero com o
silêncio...
“Não há mais sopro de
vida”. Desacelerei meus passos e minha mente e corpo não aguentam... irei
partir... para sempre...
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