sábado, 3 de novembro de 2012

Rádio, gavetas, jazz e solidão


12:00. Sem fome. Ouço as notícias no rádio: “Niemeyer acaba de sair do hospital”. Propagandas vêm logo em seguida. Continuo sem fome e sem força para encarar - pessoas ou vida tanto faz. As roupas me aguardam para irem às suas gavetas. Cajón. Cajón soa melhor do que gavetas. Lembrei-me de outra palavra: olvidar. Quero esquecer, preciso. Essa dúvida já virou certeza faz tempo, mas a esperança persiste em me matar tranquilamente.
“Jazz e Newport”, o rádio sinaliza. Eu acho bom o jazz, mas não escuto tanto quanto deveria. “1985: época, ao que parece, de ouro do jazz (é o Free Jazz).” Vou escutá-lo, quem sabe consigo olvidar esse amor impossível. O jazz começou. Parece animado e minha vida tornou-se preto e branco e danço com os olhos ao ouvi-lo. O sorriso no canto dos lábios ao ritmo do sax e a bateria ao fundo. Pessoas aplaudem (minha performance?). “blu, blu,blu.blu” infinito e com os dedos estalando. A música me anima, é tão... jazz! Me dá vontade de rodopiar ao ritmo.
Oh, não! Lembranças vêm à cabeça. Lembranças de alguém que também me machucou e me fez chorar.
12:10. O céu está azul. Continuo sem fome. O jazz contagia, eu sorrio de novo. Estou em um vestido de bolinhas e os lábios vermelhos, rodopiando e indo de um dançarino a outro enquanto o baterista continua a melodia em preto e branco. Eu não deveria ser dessa época. O jazz acabou.

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